Mais precisão nos diagnósticos

A Odontologia moderna não se restringe mais à cárie já instalada. Incorporando o conceito de promoção de saúde, os dentistas de hoje querem não apenas restaurar, mas antes interferir no desequilíbrio que provoca a doença cárie, atuando o mais cedo possível na sua detecção.

Estas novas diretrizes têm enfatizado muito a importância do diagnóstico, impulsionando pesquisas sobre novos métodos de detecção da cárie. Entre as novidades surgidas nos últimos anos, um método promissor é o que utiliza o laser de baixa potência.

A partir de um aparelho - o Diagnodent -, a luz a laser é absorvida pela superfície do dente e a fluorescência emitida é transformada em valores numéricos, que expressarão as áreas sadias e as áreas comprometidas de um dente.

"Como a desmineralização de esmalte dental resulta na perda da autofluorescência, o tipo ou gravidade da cárie é quantitativamente registrada no aparelho", explica a CD Bruna Ortenzio Lopes, de Belo Horizonte, que vem se dedicando ao estudo de novos métodos de diagnóstico da doença cárie.

Por se tratar de um método bastante sensível, é imprescindível manuseá-lo de forma correta. A calibração do aparelho e o correto posicionamento da fibra óptica, o que é extremamente simples, são importantes. Desta forma, o laser quantifica a profundidade da lesão cariosa de acordo com a perda mineral no esmalte, na dentina inicial e na dentina avançada, através de uma escala de valores que vai de 0 a 99.

"Por se tratar de uma nova tecnologia, ainda existe uma certa resistência por parte de alguns profissionais conservadores, embora muitos estudos com boa validade científica e correta metodologia estejam sendo realizados, principalmente fora do país, com resultados bastante promissores, aproximando o laser do diagnóstico histológico (padrão ouro), conforme venho também observando em meus trabalhos," diz a dra. Bruna.

Novos métodos

Antes restritos às sondas, espelhinhos e radiografias, os dentistas querem agora detectar com mais precisão e de forma menos invasiva a doença cárie. São muitos os fatores que condenam os métodos clássicos de diagnóstico: as sondas exploradoras causam minicavidades nos tecidos dentários, desfavorecendo a remineralização. Já as radiografias têm efeito colateral conhecido no paciente, devido às radiações ionizantes. Além disso, esses métodos tradicionais podem levar à subestimação da presença da cárie oclusal.

O laser, além de ser um método seguro, que não oferece riscos à saúde, aumenta em muito as chances de acerto do diagnóstico. É a precisão que a Odontologia moderna precisa para por em prática um outro princípio que vem preconizando, sobre a validade ou não da intervenção. Através do monitoramento do estado mineral do dente, é possível saber se a lesão cariosa está ativa ou controlada, ou seja, se vale a pena interferir ou se é melhor deixar o dente como está.

Evita-se assim o sobretratamento, que acontece quando o profissional se engana no diagnóstico, tratando como lesão ativa uma lesão estabilizada, que não evoluiria para uma cavidade maior. Uma outra vantagem deste novo método é o alto grau de concordância intra e inter-examinador, tornando o diagnóstico menos subjetivo e consequentemente mais preciso.

O Diagnodent, dessa forma, pode reduzir a intervenção em casos de dúvida no diagnóstico. Além disso, informações numéricas quantitativas sobre o estado mineral de um dente podem ser utilizados para precisar os melhores pontos de corte.

Outras aplicações do aparelho estão na detecção da cárie oculta, da cárie secundária, que surge junto à interface do material restaurador, monitoramento de lesões incipientes e quando se deseja avaliar se todo o tecido cariado foi removido durante um preparo cavitário. "Ao aliar o laser ao método visual de diagnóstico, o dentista tem mais chances de acerto, não expondo o paciente ao sub ou sobretratamento, aumentando-se a sensibilidade, a especificidade e a precisão do diagnóstico", diz a dra. Bruna.

Comprovação

O uso do laser como método de diagnóstico tem sido tema de diversos trabalhos científicos na Odontologia. No próximo ano, a dra. Fátima Zanin, professora do curso de Dentística da Unicastelo, dará uma grande contribuição a essa área de pesquisa, com a conclusão do trabalho que vem realizando em seu curso de doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, na área de concentração Cariologia.

Fátima, que é também professora-ministradora do Grupo de Estudos de Laser da APCD-SP, quer ir além dos trabalhos realizados até agora, que confirmam a capacidade do laser em tornar mais precisa a decisão do profissional pelo tipo de intervenção a ser realizada. Em sua pesquisa, Fátima vai medir a lesão cariosa de dentes em laboratório, seccionando a dentina, para então comparar os resultados obtidos pelo diagnóstico a laser para aqueles mesmos elementos.

"A proposta do trabalho é pegar a área de dentina onde foi detectado um número alto de fluorescência, um número intermediário e um número baixo e fazer a medida por um método histológico. O trabalho é uma confirmação, uma validação deste método de diagnóstico", explica ela.

A pesquisa vem sendo realizada na Escola Municipal Rotary, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, onde a UFRJ já desenvolve um trabalho de assistência odontológica. Um número pequeno de crianças estão participando e seus dentes decíduos, já diagnosticados pelo método a laser, são recolhidos para que sejam analisados em laboratório.

O Diagnodent é o aparelho utilizado no trabalho da dra. Fátima Zanin. Ela é uma especialista no aparelho, que conheceu na Alemanha em 1998, ao lado da dra. Iara Fonseca. Ambas gostaram do método e trouxeram o Diagnodent para o Brasil. Hoje, Fátima o utiliza como rotina em sua clínica e reconhece seu valor nos diagnósticos. Mas está ansiosa pelo conclusão final de sua pesquisa, que poderá validar definitivamente o diagnóstico a laser na Odontologia.

"A partir do score de fluorescência 21, já se detecta uma lesão na dentina. Mas ainda não é possível precisar em que terço da dentina está uma lesão com score de 40, 50, ou 60. É importante saber a partir de que número há segurança para afirmar que a lesão pode ser inativada", diz a dra. Fátima.